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Parte 3: composição

Os elementos formais

As artes visuais são constituídas por elementos que, unidos, formam uma imagem. Seja uma fotografia, uma gravura ou uma pintura, todas as expressões visuais são feitas destes que são conhecidos como elementos formais.

Gosto de dividir essas partes que formam o todo em delimitações dimensionais (ponto, linha, forma e volume) e sensações visuais (cor, luz e textura). Podemos dizer que esses elementos estão para as artes visuais assim como a nota, o timbre e a altura estão para a música.

E, embora a fotografia tenha nascido com uma certa responsabilidade de representar a realidade, ela também pode ser abstrata. Observar (e fazer) arte abstrata é um bom jeito de se familiarizar com a essência dos elementos que formam uma imagem: a forma pela forma.

Pintura abstrata com linhas e círculos nas cores rosa, preto e laranja sobre fundo branco.
A arte abstrata abre mão da representação figurativa. Sem título, Loló Soldevilla (1955)

Ponto, linha, forma, volume

A fotografia é uma representação de duas dimensões. Nela, utilizamos elementos como o ponto e a linha (que possuem uma e duas dimensões) e, muitas vezes, simulamos o volume do mundo tridimensional usando perspectiva e contrastes.

Fotografia de um ângulo baixo e aberto mostrando várias vigas metálicas enferrujadas dispostas em um padrão circular contra um céu azul vibrante. O primeiro plano destaca as vigas imponentes com texturas de ferrugem, enquanto o fundo exibe um céu claro com algumas nuvens brancas.
Uso de perspectiva para mostrar a profundidade da cena. Inhotim/MG. ISO 100, 10mm, f/2.8, 1/5000

As linhas - sejam literais ou insinuadas – de uma fotografia podem ser curvadas, anguladas ou retas. As formas também se diferenciam entre as mais orgânicas ou mais geométricas. A imprevisibilidade dos elementos curvos costuma remeter às formas da natureza, enquanto a ordem dos elementos retos e geométricos nos remete à artificialidade e à criação humana.

“A linha reta pertence ao ser humano, a curva pertence a Deus.” - Gaudí

Foto de uma cachoeira serpenteando montanhas. Ao lado, ilustração demonstrando as linhas sugeridas.

Foto de uma plantação de tulipas com fileiras de diferentes cores. Ao lado, ilustração demonstrando as linhas sugeridas.

Linhas e formas nos ajudam na representação figurativa. E não é preciso muito: somente o gesto de um corpo já nos remete à figura humana, por exemplo.

Fotografia tirada do interior de uma caverna escura, com rochas ásperas no primeiro plano. Ao fundo, um céu nublado ilumina um oceano agitado com ondas irregulares. A abertura da caverna revela um litoral rochoso em contraste com a escuridão interna. Uma mulher é vista na entrada da caverna, em silhueta, com os braços estendidos como em uma dança.
Reconhecemos a forma humana facilmente. ISO 100, 50mm, f/2.2, 1/2000
Fotografia de uma árvore sem folhas no primeiro plano, com um pássaro empoleirado em seu topo. Ao fundo, a silhueta do Cristo Redentor no topo do Corcovado. O céu tem nuvens escuras e áreas mais claras.
Mesmo sem detalhes, as formas já nos indicam significados. Rio de Janeiro/RJ. ISO 100, 50mm, f/3.2, 1/640

Cor, luz, textura

A cor é um dos elementos mais poderosos e versáteis. Ela varia em matiz, saturação e brilho. Podemos usar as cores em uma foto para criar sensações específicas, para destacar partes da imagem ou criar equilíbrio com suas combinações.

Ilustração do círculo cromático.

A matiz é o que diferencia as cores entre si no espectro da luz visível. Cada cor também varia em saturação (intensidade ou “vivacidade”) e em brilho (claro/escuro). Juntando as possíveis combinações desses três parâmetros temos uma infinidade de variações, o que explica a versatilidade desse elemento.

Brinque com o seletor de cores abaixo variando matiz, saturação e brilho para entender como cada um influencia na cor final:

Podemos criar diferentes sensações a depender da temperatura das cores: as quentes (avermelhadas/amareladas) trazem uma sensação de aconchego e calor. As cores frias (azuladas/esverdeadas) trazem mais sensação de distância e frieza.

Ilustração do círculo cromático indicando as cores quentes e frias.

Perceba que a relação entre a temperatura da cor conforme vimos na parte da técnica (medida em Kelvins) e a sensação de temperatura ligada à cor é oposta! Quando a temperatura de cor é mais alta, ela vai resultar em uma aparência mais azulada (uma “cor fria”). Quando a temperatura de cor é mais baixa, o resultado será um aparência mais amarelada (uma “cor quente”). São conceitos diferentes e podem confundir um pouco.

Fotografia de uma pessoa pedalando com seu cachorro em um caminho de um parque. Árvores estão alinhadas ao lado do caminho e projetam sombras na grama. Ao fundo, um corpo de água calmo reflete a luz quente do sol nascente, com uma fortificação ao longe.
Exemplo de foto amarelada, trazendo o aconchego de um pão de queijo com café. ISO 100, 70mm, f/2.8, 1/160
Fotografia noturna de uma cidade vista através do estreito de Tromsøysundet. No primeiro plano, as águas escuras e tranquilas refletem as luzes da cidade, criando uma atmosfera serena. Ao fundo, uma cadeia de montanhas cobertas de neve sob um céu escuro, com Tromsø iluminada à sua base, suas luzes cintilando como estrelas. Uma longa ponte cruza a água, conectando a cidade ao outro lado.
Exemplo de foto azulada com uma aparência fria. ISO 100, 10mm, f/6.3, 25”

Podemos criar destaque em partes específicas da foto usando uma combinação de cores (principalmente se usarmos poucas delas). Duas combinações interessantes são as de cores análogas e cores complementares.

Foto de um aquário com corais nas cores verde e lilás.

Cores análogas são aquelas que ficam próximas no círculo cromático. Usando cores análogas criamos uma unidade harmônica dos elementos da foto.

Foto de uma paisagem noturna em que se vê o mar, montanhas e o céu azulados. A ponta de um píer é iluminado por um poste de luz alaranjada, que ilumina uma canoa alaranjada.

Cores complementares são aquelas localizadas de forma oposta no círculo cromático. Usando cores complementares criamos um constraste e conseguimos destacar partes específicas da imagem.

Além da cor, podemos usar uma variação de brilho para compor as imagens. Este é o jogo entre o claro e o escuro. As fotos em preto e branco dependem bastante deste elemento, já que não possuem as outras dimensões da cor.

Fotografia de uma torre iluminada contra o céu escuro da noite. No primeiro plano, um canal de água escura reflete o brilho quente da torre. Ao fundo, silhuetas de árvores e prédios completam a cena.
Naarden, Holanda. ISO 100, 22mm, f/4.5, 6”

Por fim, temos também a textura. Esse elemento, na fotografia, é normalmente simulado. A exceção é quando falamos de fotografias impressas ou mesmo obras híbridas. Mas, vamos ser sinceros: hoje a maioria das fotografias é vista através de telas.

Usamos, então, as cores e a luz para simular a textura que desejamos criar ou evidenciar na nossa imagem.

Imagem aproximada de um píer com texturas de limo evidenciadas.
Em uma foto como essa, o objetivo é evidenciar a textura do píer velho, e isso foi feito usando o preto e branco.
Foto de um bebê colocando a mãozinha na boca.
A pele do bebê é delicada, e usando uma luz suave evidenciamos esta delicadeza. ISO 200, 148mm, f/3.2, 1/125

Espaço e movimento

Costumamos separar uma imagem em dois espaços: o espaço positivo e o espaço negativo. O espaço positivo é o assunto principal, enquanto o espaço negativo nos ajuda a conduzir o olhar para este assunto.

Foto de duas aves em cima de um poste.

Ilustração demonstrando o espaço positivo contendo as aves e o poste e espaço negativo contendo o fundo desfocado.

O espaço negativo é como o ar: ele envolve o assunto principal, sem chamar atenção para si. Ele é neutro e serve para dar mais atenção ao assunto. Ao navegar o olhar pela imagem, procuramos os espaços positivos.

Fotografia serena de um skyline em um dia nublado. No primeiro plano, uma pequena lancha com uma única pessoa desliza pelas águas calmas. Ao fundo, o contorno enevoado do Canal Giudecca, com prédios e a icônica Basílica de Santa Maria della Salute ao longe. A lancha está centralizada e em destaque na foto, mesmo que ocupe pouco espaço na composição.
Veneza, Itália. ISO 100, 35mm, f/1.4, 1/8000 [*]

Na fotografia e no design este espaço negativo é usado para dar destaque ao assunto principal. O maior erro de quem está começando é ter medo de deixar espaços vazios. Mas lembre-se que quanto mais espaço vazio, mais destaque você dá para o assunto principal, e não o contrário! Não tenha medo do vazio.

Pintura representando cinco corvos em destaque, com árvores e garças desenhadas de forma delicada criando espaços vazios que dão destaque para os corvos.
Corvos e garças, Hasegawa Tōhaku (1605-1610)

Por fim, um elemento que também pode ser representado visualmente é o movimento. Aqui falamos tanto do movimento representado (no espaço e no tempo) quanto do movimento que a pessoa observadora faz ao percorrer os olhos pela imagem.

Foto de uma praia, em preto e branco, em que se vê o mar bastante agitado, grandes pedras ao fundo e três crianças encapuzadas correndo.
Reynisfjara, Islândia. ISO 100, 200mm, f/32, 1/0.4"

Última revisão em: Set/2025

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