ir para a página inicial ddf / o guia completo da fotografia

Parte 3: composição

Fotografia de viagens

O ano de 2014, quando escrevi a primeira versão deste guia, foi o ápice da minha vida viajante. Passei por todas as capitais do Brasil e por alguns países diferentes, pisando com minhas havaianas verdes em todo tipo de terreno. Entre cada trecho feito por terra, ar ou mar, eu cantarolava Gonzaga:

“Minha vida é andar por este país, pra ver se um dia descanso feliz…“

Me aposentei da vida viajante para finalmente descansar feliz, mas várias das minhas fotos preferidas – muitas das quais ilustram esse guia, inclusive – foram feitas ao longo dessas viagens.

Foto de uma bandeira de Cuba tremulando.
Havana, Cuba. ISO 100, 35mm, f/11, 1/160

Gostaria de compartilhar algumas das dicas que me acompanharam na criação dessas imagens para quem está querendo aproveitar o passeio para também fotografar.

Quem viaja com você?

É inevitável: quem gosta de fotografar vai andar um pouco mais devagar, parar mais vezes e querer esperar “só mais alguns minutinhos” até a luz ficar perfeita.

Foto de uma planície holandesa e algumas ovelhas caminhando em direção aos moinhos de vento.
Ovelhas holandesas. ISO 100, 10mm, f/22, 1/400

Se você está viajando com alguém é preciso achar o equilíbrio combinando um cronograma um pouco mais folgado do que tipicamente seria. Com mais tempo entre cada atividade é possível fotografar tranquilamente sem ninguém ficar impaciente com você.

Se a pessoa com quem você costuma viajar não tem nenhuma paciência para seus devaneios fotográficos, é melhor escolher outra companhia na próxima oportunidade!

Crie um dia da fotografia

Se seu objetivo da viagem definitivamente não é fotografar, ou quem viaja contigo não curte muito a ideia de mudar o cronograma por causa disso, planeje e negocie um dia da fotografia. Ali pela metade final da viagem, separe um dia dedicado às fotos. No nascer do sol, volte a algum lugar que você achou interessante, caminhe sem rumo para fotografar detalhes durante o dia e vá para outro local que te chamou a atenção para ver o entardecer.

Foto PB de um senhor lendo papéis em um banco e algumas pessoas passando de bicicleta ao fundo.
Moray, Peru. ISO 160, 18mm, f/10, 1/50

Neste “dia da fotografia” você pode se preocupar só com as imagens que quer criar. Sem passeios corridos e outras atividades turísticas.

Fotografar ou descansar?

Durante suas férias, evite levar junto a pressão da fotografia perfeita. Você não precisa voltar das suas viagens com as fotos mais lindas já feitas no universo. Se esta não é a sua profissão, aproveite as férias para realmente desanuviar a mente e deixá-la prontinha para novas ideias ao voltar pra casa. Já temos tantos compromissos no nosso dia a dia – não faz sentido levar mais obrigações justamente para nosso merecido momento de descanso.

Foto PB de um senhor lendo papéis em um banco e algumas pessoas passando de bicicleta ao fundo.
Congonhas/MG. ISO 100, 10mm, f/2.8, 1/800

Viaje por mais tempo

Ficar por várias semanas em um destino faz você entender muito melhor o local e seus costumes. Nos primeiros dias no Rio de Janeiro você já resolve as atividades “obrigatórias”, como ir no Cristo Redentor, onde dificilmente você vai tirar fotos diferentes de outras milhões de pessoas, e sobra tempo para vivências (e fotos) realmente especiais.

Só depois de um tempo é possível começar a desvendar o jeito de um lugar. E é esse processo que faz a maior diferença nas imagens que criamos.

Foto PB de um senhor lendo papéis em um banco e algumas pessoas passando de bicicleta ao fundo.
Naarden, Holanda. ISO 125, 200mm, f/3.5, 1/800

Sei que viajar por bastante tempo não é fácil (e nem barato, dependendo pra onde você vai). Mas se não for possível ficar um mês inteiro viajando, considere ficar o tempo todo em um só lugar. Talvez seja bom evitar viagens do tipo “conheça 10 países da Europa em 15 dias”. Fotos interessantes de viagem contam histórias e a gente só conhece histórias com tempo. Fotos de paisagem precisam ser planejadas, o que também demanda tempo. Ou seja: tempo é essencial. E não só suas fotos ficarão mais bonitas assim, mas também suas experiências.

Fotografe a sua cidade

Se o tempo nos permite conhecer mais profundamente os lugares e assim fotografá-los melhor, fica a pergunta: onde normalmente passamos a maior parte do nosso tempo? Na cidade onde moramos!

Moradores podem fotografar a própria cidade com as vantagens que os turistas que a visitam não possuem: uma relação diária e cheia de histórias pelas esquinas. E tem um bônus: se a luz ou a composição não ficaram muito boas hoje, dá pra voltar no dia seguinte. Que tal aproveitar essa visão privilegiada?

Nascer do sol avermelhado com uma montanha ao fundo, a areia da praia em primeiro plano e uma ave no solo.
Foto que fiz a caminho do trabalho. Ubatuba/SP. ISO 200, 35mm, f/1.4, 1/250

O fenômeno das fotos iguais

Uma amiga me contava, dia desses, como é fazer um passeio turístico em 2025. Ela foi ao Jalapão e, durante os trajetos em grupo entre os famosos fervedouros e outros pontos de interesse, ela notou – sem querer bisbilhotar, claro – que uma mocinha ficava o tempo todo mostrando fotos de referência no celular para seu namorado/fotógrafo. Assim que chegavam em cada um dos pontos, começava a produção para realizar as fotos. Foto subindo as escadas? Pronto! Foto jogando areia para o alto? Pronto! Foto na canoa transparente? Pronto. Feitas as fotos, hora de ir para o próximo.

9 fotos praticamente idênticas de pessoas diferentes subindo uma escada com um fervedouro do Jalapão ao fundo.
Fotos por: @_jaadysantos / @anaferreirasl / @marymfrazao / @maricorreass / @joaopedromdz / @carii_marques / @july.werneck / @_daniela.cardoso

Sou uma jovem-senhorinha sem redes sociais e isso me deixa boquiaberta, admito. Sei que existem motivos não fotográficos para repetir fotos já vistas por aí – e tem gente bem mais qualificada que eu pra falar sobre esse assunto. Mas, pra quem considera a viagem como uma experiência por si mesma, algumas perguntas podem ser interessantes:

Se a resposta para qualquer uma dessas perguntas for sim, eu costumo guardar a câmera e deixar a foto para outro momento.

Foto do topo da torre Eiffel em meio a dois postes de luz, com o céu avermelhado ao fundo.
Paris, França. ISO 800, 70mm, f/5, 1/400

Fotos interessantes são narrativas visuais. Ao pensar em fotografar durante uma viagem, também gosto de me perguntar: quais histórias quero contar com essa foto?

Inclua pessoas nas suas fotos de viagem

Um dia, ao visitar a Islândia, parei em uma praia muito peculiar chamada Black Sand Beach. Decidi fazer fotos de longa exposição das ondas branquinhas contrastando com a areia preta.

Depois de trocar a lente com um vento forte, montar o tripé na posição correta em cima daquela areia esquisita, definir a exposição, fazer o foco bem direitinho e chegar na composição final, comecei a fotografar.

Praia com areias pretas, várias rochas de formatos diversos ao fundo e ondas enevoadas batendo.
Black Sand Beach/Islândia. ISO 100, 200mm, f/32, 0.4”

Estava conseguindo os resultados que queria quando olhei para o lado e notei algumas crianças correndo em direção à minha cena! Por um momento achei que elas iriam “estragar” a composição. Mas logo notei que uma foto com as crianças ficaria muito mais interessante. Bem de longe, sem nem perceber que seus vultos faziam parte de uma fotografia, elas continuaram brincando de fugir das ondas enquanto eu clicava.

Praia com areias pretas, várias rochas de formatos diversos ao fundo e ondas enevoadas batendo, agora com três vultos de crianças no quadro.
Black Sand Beach, Islândia. ISO 100, 200mm, f/32, 0.4”

Figuras humanas trazem perspectiva e contexto para uma imagem. Elas podem ser a diferença entre uma foto de paisagem bonita, mas sem sal, para uma foto que chama a atenção. Pode ser legal fazer fotos exclusivamente de uma paisagem bonita mas, ocasionalmente, dá pra experimentar: ao invés de esperar as pessoas saírem da sua composição, espere elas entrarem.

Ao fundo, o corcovado. A lagoa Rodrigo de Freitas no plano médio. No primeiro plano, o vulto de uma mulher correndo.
Rio de Janeiro/RJ. ISO 100, 14mm, f/4.5, 1/160”

Dica extra: tripé para viajantes

É comum bater mais perna durante uma viagem do que faríamos em casa, para aproveitar a viagem ao máximo. Para não ficar com um torcicolo no final do dia, é interessante levar poucos equipamentos: a câmera, uma ou duas lentes e muitos cartões de memória são o suficiente. Mas se você faz questão de inventar umas fotos noturnas ou de longa exposição, um tripé pode ser bem útil. Se você não quer carregar um tripé grandão, sugiro um do tipo Gorillapod: ele é um pequeno tripé com pernas flexíveis, que pode ser usado tanto no chão quanto agarrado em objetos (como grades e postes).

Ilustração de um tripé pequeno feito de pequenos gomos, agarrado em uma árvore.

Última revisão em: Set/2025

tópico anterior
Fotos de longa exposição

Próximo tópico
A luz na fotografia

Índice completo