A proposta de um retrato é representar a pessoa considerando não só suas características físicas, mas também seu jeitinho próprio. Penso que o melhor elogio que podemos receber depois de fazer um retrato é: “esta foto ficou a minha cara!”
Como já contei pra você, ao longo da minha carreira na fotografia meu coração sempre esteve nos retratos. Acabei desenvolvendo um conceito que chamei de “direção afetiva”. Pretendo trazer mais detalhes sobre essa abordagem para fotografar pessoas que não são modelos profissionais, mas isso fica para o futuro. Até lá, vou compartilhar algumas dicas simples e efetivas para quem quer começar a explorar essa área deliciosa que é fotografar pessoas.

Mais uma vez beberemos de conceitos que são usados em outras artes visuais e que nasceram, muitas vezes, antes da fotografia sequer ser sonhada.
O rosto e o olhar
O retrato tradicional coloca o rosto em evidência. Preferencialmente, inclusive, com a pessoa olhando na nossa direção. Você já deve ter visto alguns retratos como esses nos museus:

Quando fotografamos pessoas que não são modelos profissionais, no entanto, essa parte de olhar diretamente para a câmera pode causar um certo desconforto. Pra evitar esse desconforto costumo pedir para a pessoa olhar diretamente para a câmera somente após um momento mais descontraído e bem rapidamente. Um jeito de fazer isso é pedir para a pessoa fechar os olhos, manter uma conversa agradável e, aí sim, pedir para ela olhar para a câmera. Após o clique seguimos adiante sem nos demorarmos muito nessa posição.

A regra mais clássica dos retratos é manter o foco sempre nos olhos. Nos dois - caso estejam no mesmo plano de foco – ou naquele que estiver mais próximo da câmera. A dica vale, inclusive, se os olhos estiverem fechados.

É claro que podemos simplesmente quebrar essa tradição e fazer retratos menos rígidos em que a pessoa não olha diretamente para a câmera. Neste caso, deixar um espacinho no quadro na direção para onde a pessoa está olhando traz um resultado agradável.

Já dei uma dica sobre composição de retratos no tópico sobre a regra dos terços, indicando que procuramos deixar os olhos na altura do terço superior. O motivo para isso é simples: os olhos estão no centro da nossa cabeça. Abaixo deles, temos todas as outras feições e o restante do corpo. Acima deles, temos somente a testa. Nos casos de fotos bem aproximadas, pode ser necessário “cortar” o topo da cabeça. Tá tudo bem fazer isso.

Enquadramento
O enquadramento mais clássico dos retratos é o primeiro plano, também bastante conhecido pelo nome em inglês close-up. Este enquadramento inclui rosto e ombros.

Uma referência interessante de enquadramento são os padrões do cinema. Escolhemos planos mais fechados ou mais abertos a depender da intenção dramática e da contribuição do contexto pra ideia do retrato1.
Um enquadramento bem próximo (primeiríssimo plano) evidencia totalmente o rosto e a expressão:

Já um enquadramento bem aberto (plano geral) permite mostrar um contexto e incluir elementos que ajudam a contar a narrativa daquele retrato.

O que evitar
Causa um certo desconforto quando vemos um enquadramento em que a pessoa está “encostada” bem na beiradinha do quadro. Também pode incomodar quando o quadro “corta” a pessoa bem nas partes do corpo que dobram (tornozelo, joelhos, cintura, cotovelos, pescoço, pulsos).
Fotos de crianças
Uma grande dificuldade ao fotografar pessoas adultas é deixá-las à vontade. Não enfrentamos esse problema com as crianças, principalmente quando elas são deixadas livres para brincar. O mais difícil de fotografar crianças é controlar os responsáveis, que muitas vezes acabam podando a criançada e ficam falando “OLHA LÁ PRA TIAAA! DÁ UM SORRISO PRA TIAAA!”
O segredo é transformar o momento das fotos em uma brincadeira. Brinque com a criança e deixe-a brincar. Pronto!

Se o seu objetivo é trabalhar com ensaios infantis profissionalmente, lembre-se que hoje em dia as pessoas tem acesso à fotografia de qualidade dentro do bolso, em seus smartphones. O papel de profissionais é registrar aquilo que a família não consegue: a relação familiar. Fotos da criança sozinha são importantes, claro, mas o carinho de toda a família é o que faz esse tipo de ensaio ficar realmente especial.

O mesmo vale para os bebês. Embora existam várias vertentes de fotos de bebês – algumas mais posadas e produzidas – no fim das contas as fotos mais amadas são aquelas da relação familiar.

Dica técnica: As lentes mais indicadas para fotos infantis são aquelas versáteis, que nos permitem captar a foto mesmo se a criança estiver escondida em um cantinho ou correndo no parque: lentes zoom, como a 24-70mm, são um bom exemplo. Também é bom usar um tempo de exposição rápido para acompanhar os movimentos.
- MARTIN, Marcel. A linguagem do cinema. 2. ed. Lisboa: Dinalivro, 2005.↩
Última revisão em: Set/2025