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Parte 3: composição

Fotografia de pessoas

A proposta de um retrato é representar a pessoa considerando não só suas características físicas, mas também seu jeitinho próprio. Penso que o melhor elogio que podemos receber depois de fazer um retrato é: “esta foto ficou a minha cara!

Como já contei pra você, ao longo da minha carreira na fotografia meu coração sempre esteve nos retratos. Acabei desenvolvendo um conceito que chamei de “direção afetiva”. Pretendo trazer mais detalhes sobre essa abordagem para fotografar pessoas que não são modelos profissionais, mas isso fica para o futuro. Até lá, vou compartilhar algumas dicas simples e efetivas para quem quer começar a explorar essa área deliciosa que é fotografar pessoas.

Retrato em preto e branco de uma mulher deitada no chão e de olhos fechados, com a mão para cima e sentindo o sol batendo na sua direção.
Larissa. ISO 250, 50mm, f/1.8, 1/60

Mais uma vez beberemos de conceitos que são usados em outras artes visuais e que nasceram, muitas vezes, antes da fotografia sequer ser sonhada.

O rosto e o olhar

O retrato tradicional coloca o rosto em evidência. Preferencialmente, inclusive, com a pessoa olhando na nossa direção. Você já deve ter visto alguns retratos como esses nos museus:

Retrato de uma mulher usando uma gorgeira típica da europa ocidental renascentista.
Autorretrato, Sofonisba Anguissola (1560). [*]

Quando fotografamos pessoas que não são modelos profissionais, no entanto, essa parte de olhar diretamente para a câmera pode causar um certo desconforto. Pra evitar esse desconforto costumo pedir para a pessoa olhar diretamente para a câmera somente após um momento mais descontraído e bem rapidamente. Um jeito de fazer isso é pedir para a pessoa fechar os olhos, manter uma conversa agradável e, aí sim, pedir para ela olhar para a câmera. Após o clique seguimos adiante sem nos demorarmos muito nessa posição.

Retrato em preto e branco de uma mulher com franja, dando um sorriso delicado, e olhando diretamente para a câmera. O fundo bastante desfocado.
Priscila. ISO 100, 70mm, f/2.8, 1/60

A regra mais clássica dos retratos é manter o foco sempre nos olhos. Nos dois - caso estejam no mesmo plano de foco – ou naquele que estiver mais próximo da câmera. A dica vale, inclusive, se os olhos estiverem fechados.

Retrato em preto e branco de uma mulher sorrindo delicadamente. A foto é feita de um ângulo de cima e ela está em um balanço, segurando as correntes.
Letícia. ISO 100, 35mm, f/1.4, 1/800

É claro que podemos simplesmente quebrar essa tradição e fazer retratos menos rígidos em que a pessoa não olha diretamente para a câmera. Neste caso, deixar um espacinho no quadro na direção para onde a pessoa está olhando traz um resultado agradável.

Mulher de cabelos cacheados posicionada no canto inferior direito do quadro olhando para o espaço vazio.
Mari. ISO 100, 50mm, f/1.8, 1/30

Já dei uma dica sobre composição de retratos no tópico sobre a regra dos terços, indicando que procuramos deixar os olhos na altura do terço superior. O motivo para isso é simples: os olhos estão no centro da nossa cabeça. Abaixo deles, temos todas as outras feições e o restante do corpo. Acima deles, temos somente a testa. Nos casos de fotos bem aproximadas, pode ser necessário “cortar” o topo da cabeça. Tá tudo bem fazer isso.

Retrato de mulher de cabelos lisos e franja. Ela dá um grande sorriso e olha para o lado esquerdo do quadro. Somente os olhos estão em foco mas é possível ver uma tatuagem no seu ombro direito.
Lilyan. ISO 500, 35mm, f/1.4, 1/250.

Enquadramento

O enquadramento mais clássico dos retratos é o primeiro plano, também bastante conhecido pelo nome em inglês close-up. Este enquadramento inclui rosto e ombros.

Pintura a óleo de uma mulher de cabelos curtos e crespos usando um vestido na cor vinho.
Zeferina, por Dalton Paula (2018). [*]

Uma referência interessante de enquadramento são os padrões do cinema. Escolhemos planos mais fechados ou mais abertos a depender da intenção dramática e da contribuição do contexto pra ideia do retrato1.

Ilustração mostrando uma pessoa e diversos quadros representando diferentes enquadramentos.

Ilustração mostrando uma pessoa e diversos quadros representando diferentes enquadramentos.

Um enquadramento bem próximo (primeiríssimo plano) evidencia totalmente o rosto e a expressão:

Retrato em preto e branco de uma mulher usando um chapéu de praia que sobrepõe um pouco seu rosto, olhando diretamente para a câmera, e com um grande sorriso. O fundo bastante desfocado.
Michele. ISO 100, 110mm, f/5, 1/1000

Já um enquadramento bem aberto (plano geral) permite mostrar um contexto e incluir elementos que ajudam a contar a narrativa daquele retrato.

Um homem e uma mulher se abraçam, de olhos fechados, na parte inferior da fotografia. Vemos eles de corpo inteiro e estão sentados no topo de um barco, que tem grafismos pintados. Ao fundo se vê a imensidão da baía de guanabara e o pão de açúcar.
Maíra e Bryce. ISO 100, 10mm, f/2.8, 1/25

O que evitar

Causa um certo desconforto quando vemos um enquadramento em que a pessoa está “encostada” bem na beiradinha do quadro. Também pode incomodar quando o quadro “corta” a pessoa bem nas partes do corpo que dobram (tornozelo, joelhos, cintura, cotovelos, pescoço, pulsos).

Ilustração mostrando, em vermelho, linhas de enquadramento nas beiradinhas da pessoa e nas partes do corpo que dobram. Em verde, estão linhas mostrando as partes intermediárias onde é mais interessante fazer o enquadramento.

Fotos de crianças

Uma grande dificuldade ao fotografar pessoas adultas é deixá-las à vontade. Não enfrentamos esse problema com as crianças, principalmente quando elas são deixadas livres para brincar. O mais difícil de fotografar crianças é controlar os responsáveis, que muitas vezes acabam podando a criançada e ficam falando “OLHA LÁ PRA TIAAA! DÁ UM SORRISO PRA TIAAA!”

O segredo é transformar o momento das fotos em uma brincadeira. Brinque com a criança e deixe-a brincar. Pronto!

Foto de uma criança com fundo desfocado verde. Ela abraça com força e beija um bichinho de pelúcia.
Olívia. ISO 100, 200mm, f/2.8, 1/250

Se o seu objetivo é trabalhar com ensaios infantis profissionalmente, lembre-se que hoje em dia as pessoas tem acesso à fotografia de qualidade dentro do bolso, em seus smartphones. O papel de profissionais é registrar aquilo que a família não consegue: a relação familiar. Fotos da criança sozinha são importantes, claro, mas o carinho de toda a família é o que faz esse tipo de ensaio ficar realmente especial.

Foto em que uma criança pequena e sua mãe aparecem no canto direito do quadro dando um selinho.
Bella. ISO 320, 70mm, f/2.8, 1/160

O mesmo vale para os bebês. Embora existam várias vertentes de fotos de bebês – algumas mais posadas e produzidas – no fim das contas as fotos mais amadas são aquelas da relação familiar.

Foto de um bebê sorrindo com a mãe abraçando ele por trás e também sorrindo.
Raphael. ISO 800, 56mm, f/2.8, 1/100

Dica técnica: As lentes mais indicadas para fotos infantis são aquelas versáteis, que nos permitem captar a foto mesmo se a criança estiver escondida em um cantinho ou correndo no parque: lentes zoom, como a 24-70mm, são um bom exemplo. Também é bom usar um tempo de exposição rápido para acompanhar os movimentos.


  1. MARTIN, Marcel. A linguagem do cinema. 2. ed. Lisboa: Dinalivro, 2005.

Última revisão em: Set/2025

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