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Extra A: passo a passo

Como fotografar o céu estrelado

A astrofotografia é uma área da fotografia que exige equipamentos extremamente específicos e absurdamente caros. Com eles é possível capturar imagens espetaculares dos astros, como esse trânsito da estação espacial internacional pelo Sol:

Imagem aproximada do sol com seus flares em destaque e a silhueta da estação espacial, pequenina, no canto inferior direito.
Trânsito da ISS pelo Sol, por Andrew McCarthy.

(Um telescópio com filtro H-alpha, que permite fazer fotos da superfície solar como esta acima, custa quase 30 mil reais!)

Não é desse tipo de foto que vou falar por aqui. Vou falar sobre as fotos possíveis de se fazer com os equipamentos mais comuns da fotografia (um tripé e uma câmera com controles manuais.) Mesmo com um equipamento não especializado é possível fazer lindos registros do céu estrelado.

Eu, particulamente, comecei a me interessar pelo assunto quando visitei a Islândia – um dos lugares com o céu mais limpo do planeta – e quando comecei a fazer viagens para caçar a Aurora Boreal. Essas experiências me fizeram aprender a apreciar o céu de outra forma e a olhar mais frequentemente para o alto.


O que precisamos para boas fotos de estrelas?

A primeira coisa que você vai precisar é de muita escuridão! Infelizmente nossas cidades causam uma enorme poluição luminosa e é difícil ver e fotografar o céu nessas condições. Nossa sorte é que nosso país possui muitas áreas menos iluminadas, onde é possível ver mais estrelas. Neste site você encontra mapas de poluição luminosa para descobrir onde é mais escurinho perto de você.

Além da poluição luminosa, considere a lua: nosso satélite natural reflete um tantão de luz do sol, então é interessante planejar suas fotos para uma época de lua nova.

A foto abaixo foi feita durante um blecaute na Ilha Grande. Aliás, blecautes são bons momentos para fotografar nos lugares onde, normalmente, haveria muita poluição luminosa. Acabou a luz? Aproveita para ir olhar o céu!

Foto do céu estrelado em que se vê a via láctea e uma paisagem com árvores em primeiro plano.
Ilha Grande/RJ. ISO 2000, 10mm, f/2.8, 30

Estamos falando de fotos na escuridão, então será necessário usar uma exposição longa para conseguir captar a luz que as estrelas, lá longe, emitem. Às vezes podemos usar até 30 segundos. Um bom tripé será um grande amigo durante essas longas exposições. Quanto às objetivas, sugiro as lentes grande-angulares pois com elas conseguimos captar não só a imensidão do céu mas, também, a paisagem.

Outro acessório interessante é um disparador remoto, que permite fazer a foto sem tocar na câmera (evitando tremores) e selecionar facilmente o tempo de exposição preferido. Atualmente muitas câmeras possuem a opção de um disparador remoto via app pelo smartphone.

Dica: se for usar o celular como disparador remoto ou mesmo para conseguir ver melhor no escuro, tente diminuir o brilho da tela para o mínimo possível. Assim você não ofusca sua visão na escuridão. Se você estiver junto com outras pessoas, isso também evita de estragar a foto delas!

O último e mais importante item necessário é paciência. As nuvens são as maiores inimigas das fotos de estrelas. É essencial ter calma e esperar elas passarem. Muita gente gosta de fazer esse tipo de foto durante acampamentos, pois além de conseguir pernoitar em lugares sem poluição luminosa, dá pra ficar a noite inteira olhando o céu e esperando a situação ideal. Se for impossível se livrar das nuvens, junte-se a elas, e tente incluí-las na composição.

Foto do céu estrelado em que se vê a via láctea e uma paisagem com montanhas e geleiras, além de nuvens.
Islândia. ISO 1000, 14mm, f/4, 30

Constelações e via láctea

Se você não tem muita intimidade com a astronomia e quer ter uma ideia do que está acontecendo no céu, pode usar um site ou aplicativo (como o gratuito Stellarium) para te mostrar os nomes das estrelas, das constelações e a localização da via láctea. Se o aparelho for compatível você pode apontar o celular para o céu e ver tudo com realidade aumentada!

Passo a passo

Muito bem, você já escolheu um lugar bem escuro e está com o tripé pronto apontando para o céu. E agora? Como ver a composição? Como focar? Como fotometrar?

Você vai perceber que no escuro é bem difícil ver o que você está fotografando! Nessa hora, vale a tentativa e erro. Não se importando muito com as configurações exatas, aponte para onde quer fotografar olhando pelo visor (não pelo LCD, que fica num breu total) e faça algumas fotos de teste para descobrir a melhor composição.

Agora é a hora de fazer o foco. O mais prático é deixar no modo manual, sempre checando o resultado a cada foto. Às vezes esbarramos na lente sem querer, ao mudar a câmera de lugar e o foco vai pro espaço (desculpe o trocadilho!)

Foto toda desfocada do céu.
Fora de foco... Lumiar/RJ. ISO 6400, 10mm, f/2.8, 19'

A maioria das lentes possui uma marcação que permite selecionar o foco infinito. É este que você vai escolher (use uma lanterna ou celular para ver a marcação no escuro.) Se a sua lente não possui essa marcação, crie uma. Durante o dia, use o foco automático para focar em um lugar bem longe, e use fita adesiva para marcar ou prender o anel de foco da lente.

Foto toda desfocada do céu.
...Agora, sim! Lumiar/RJ. ISO 6400, 10mm, f/2.8, 19'

Comece selecionando a máxima abertura que a sua lente permitir e o máximo de ISO que você tem coragem. O tempo de exposição deve ser longo o suficiente (quanto mais longo, mais sua câmera vai conseguir registrar as estrelas mais fraquinhas.) Você pode testar com 20 ou 30 segundos, e ir verificando o resultado.

Mas tome cuidado: ao usar um tempo de exposição muito longo a câmera começará a registrar o movimento de rotação da terra, fazendo com que as estrelas façam rastros no céu.

Esse efeito – chamado de star trail – pode ficar bonito, mas nem sempre é o que você quer. Para saber o máximo de tempo que você pode usar sem que as estrelas comecem a se mover na foto você pode usar uma continha simples conhecida como “regra dos 500”: divida 500 pela distância focal da lente e encontrará o tempo máximo para conseguir fotos de estrelas sem rastros visíveis.

Exemplo: se estou usando uma lente 10mm, divido 500 por 10 e chego em 50. Isso quer dizer que posso usar até 50 segundos sem que as estrelas criem um rastro.

Veja abaixo um exemplo de duas fotos que fiz na mesma situação e com as mesmas configurações, só trocando a lente:

Foto do céu com estrelas sem rastros e montanhas.
Usando uma 10mm, não há rastros de estrelas. Oberhofen/Suíça. ISO 1000, 10mm, f/3.5, 30'
Foto do céu com estrelas sem rastros e montanhas.
Usando uma 200mm, os rastros aparecem. Oberhofen/Suíça. ISO 1000, 200mm, f/3.5, 30'

Dica: se você está usando uma câmera com fator de corte, use a distância focal aparente no cálculo. Uma lente 10mm usada numa câmera com fator de corte de 1.6 vai ter uma distância focal de 16mm (10 vezes 1.6). 500 / 16 = 31. Posso usar, neste caso, no máximo 31 segundos.

Inclusive, um dos equipamentos caros da astrofotografia é um acessório que faz a câmera girar “junto com o céu”, permitindo exposições bem mais longas que não criam o star trail. Veja neste vídeo as opções de equipamento que cumprem esse papel.

Aurora boreal

As mesmas dicas que valem para o céu estrelado valem para a Aurora Boreal. Este fenômeno é visível nas regiões próximas do círculo polar ártico e pode ser visto nas épocas de inverno (que é quando está mais escuro por lá).

Foto de um céu iluminado pela Aurora Boreal, montanhas, lagos e pedras na paisagem.
Troms/Noruega. ISO 1000, 10mm, f/2.8, 8'

Se você tiver a oportunidade de ir “caçar” a aurora, aproveite para fotografá-la usando esse mesmo passo a passo.

Última revisão em: Set/2025

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