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Introdução

Era 2013 e eu já escrevia, há algum tempo, um blog sobre fotografia.

(Para os que não sabem o que é um blog: imaginem um “tiktok” sem vídeos, só com textos. Pois é, a internet já foi assim.)

Naquele ano, uma editora me convidou a escrever um livro de fotografia básica. Relutei um pouco (quem sou eu pra escrever um livro sobre fotografia básica?), mas logo percebi que fazia sentido: eu mesma tinha aprendido a fotografar folheando páginas estrangeiras, lendo vozes que não falavam comigo. Aquelas pessoas tão brancas, aquelas imagens de beisebol, aqueles céus de outro hemisfério. E a diferença não estava só na cor da pele ou nos esportes praticados: a própria abordagem tinha um quê de frieza e consumismo que não se relacionava muito com a minha vivência de fotógrafa latino-americana.

Então, escrevi. Com carinho e afeto. Mas o livro nunca foi publicado: tive divergências sérias com a editora, disponibilizei o ebook gratuitamente na internet e acabei sofrendo um processo judicial. Fui obrigada a retirar o arquivo de circulação. Durante uma década carreguei a pergunta comigo: será que um dia esse conteúdo voltará a existir no mundo?

Nesse tempo, eu mudei. Parei de fotografar e saí explorando outros mares. Os novos mergulhos foram das artes plásticas às circenses, da dança à poesia. Trabalhei como uber e com construção civil. Cruzei o país de bicicleta, de Curitiba até Natal. Fiz uma graduação em matemática e resolvi me aventurar nos desafios e belezas da educação básica.

Nesses dez anos, entendi melhor a intuição que já me movia quando escrevi o livro: a vontade de questionar uma forma de ensinar fotografia importada do norte global, marcada por uma epistemologia colonizadora. Depois descobri que isso até tem até um nome: chamam de decolonial. Acho que posso dizer que me descobri decolonial.

Quando o processo judicial finalmente terminou, voltei ao livro. Só que, tantos anos depois, encontrei mil defeitos:

…muitas partes sobre tecnologias ficaram datadas (câmeras compactas e apps que já nem existem mais);

…os experimentos em diferentes linguagens artísticas me levaram a criar outros entendimentos e a aprofundar aqueles que eu vivia na fotografia;

…e a experiência com a educação básica me fez ficar muito mais exigente em termos de didática (só quem tenta ensinar expressões algébricas para pré-adolescentes da escola pública sabe o que quero dizer).

O que permanece é a responsabilidade que sinto diante da criação fotográfica — e da arte em todas as suas formas. Para mim, ela não reflete a realidade nem caminha à parte dela: é sim essência criadora. Tudo que já escrevi ou falei sobre fotografia nasceu e ainda nasce desse lugar.

Depois de tanto tempo, desisti de republicar o livro da forma como ele nasceu. Mas decidi reescrever tudo. E jogar pro mundo. Que tal um conteúdo fresquinho sobre fotografia… escrito por uma ex-fotógrafa? Se te parece curioso, siga comigo.


imagem em destaque: nuestro norte es el sur (adaptando JTG). bordado em retalho/2019. claudia regina.

Última revisão em: Set/2025

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